5 de junho de 2007

Incomodado

Incomoda-me não largar o cigarro

A cada trago, a cada fôlego zerado

Incomoda-me mais ainda estar sempre errado

Um desvairado, seria no tempo de minha avó

Alucinado, diriam mamãe e papai

Revoltado, anuncia sem medo o Thiago

Entre outros nomes porra louca

Incomoda-me ser rotulado

A cada dia, a cada novo protesto rachado

Incomoda-me mais ainda ser castrado

Alienado, diriam os mestres desacostumados

Retardado, seria a frase do pensamento massificado

Coitado, declara me superior irritado

Incomoda-me as drogas com que ludibriei

A cada descontentamento, a cada verso rachado

Incomoda-me mais ainda o que pensa de mim

Amado, pensaria naquele momento exato

Equivocado, diria nos dias que seguem sem fim

Iluminado, sentirá ainda antes que apaguem a luz em mim

23 de maio de 2007

fuck you, fuck me, fuck her, fuck him, fuck all

Opa! Beleza?!

Que trampo legal…

Vamos trabalhar juntos?

fuck you

Claro… fica tranquilo

Depois a gente vê comofica

Senta aí....

fuck me

Hahaha! Cês são mesmo bons

Adoro tudo isso

Dá pra ensinar?!

fuck her

Pô não deu…

Acabei esquecendo

Ah veio! Agora cê tem que se virar

fuck him

Ele é mesmo um esnobe

Acha que é fodásico

Mas é bobo, vamu chupar tudo

fuck all

16 de maio de 2007

decifra-me

Confesso, ando meio confuso. Às vezes acho tão previsível meu próprio absurdo. Sem demagogia ou falso niilismo, não to querendo nepotismo no meu pensamento, se ninguém consegue, como posso pretender empregar esse vacilo filosófico. Tenho quase certeza que não credito mais fielmente nessa criação virtual do meu espírito animal. Um anarquismo católico, capitalismo filantrópico ou ainda socialismo neo-liberalista. Terror. Terrorismo individualista ego centrista, talvez chamem assim em um livro de 2027. Por enquando acostumo a ser consultado e depois desprezado, amado e logo odiado, hora sensato, hora alucinado. Dói a máquina que possessa meus gigahertz de futuros visionários pensamentos. Dói o coração que não acompanha o ritmo frenético desse descontentamento. Mas brilha fundo um sorriso de estar certo para ser contrariado.

वहत?

Pare

Siga

Continue

Recue

Adiante

Volte

Estátua

Movimente

Vivo

Morto

Morto

Vivo

Agora explique-me

O que quer de mim?

8 de maio de 2007

sorria

Num dia daqueles

Um velho sem dente

Com muita coisa na mente

Perguntou-me, o que te faz feliz?

Claro que não soube responder

O sucesso, o reconhecimento

As conquistas, os sentimentos

Não disso em satisfazia mais

Vendo-me calado

Apontou-me seu sorriso

Sentindo-me apavorado

Disse, sem o menor pudor

Antes do fim da tarde

Faça esse sorriso brilhar novamente

Pois é lê que comanda seus próprios dentes

Faça da boca dela tua luz

Pois só a janela da alma dela traduz

O que te faz feliz?

Sem mexer os lábios

Indagou novamente à minha mente

Vela contente

Respondi, também sem mexer os dentes

7 de maio de 2007

da princesa moura e do augusto II

Antes do nascer do sol

Após a morte da noite

Em instantes onde não se vive

O choro trincou o céu turvo

Onde viam apenas um parto

Percebi a nova era

Dos cabelos negros

Que nasceram longos

Do corpo frágil

Uma futura mulher

A luz cegou olhos

O som alucinou ouvidos

E o perfume ressuscitou meu coração

Para os mouros a futura rainha

Para o augusto a estrela guia

Buscará por ela um novo caminho

Perceberá na princesa moura

O amor, o carinho

4 de maio de 2007

do augusto e da princesa moura I

Eram negras as ondas dos cabelos

Como negros foram outrora meus anseios

Firmes e fortes os olhos e os dedos

Certamente, um dia, também não tive medo

Ecoava o nome em meu peito

Brilhava latente o sorriso em minha mãe

O que faria eu, se não admirar

O que mais pudera eu, se não apaixonar

De terras distantes da minha mente divagante

Uma princesa moura, negra de olhos e pele

A quem dedico meu amar

24 de abril de 2007

Giro ou cíclico

Invariavelmente as variáveis vão contra as estáveis

E eu que nunca gostei de conforto

Amo este tempo louco

Nunca quis saber do amanhã

Faço sempre como se fosse a última vez

Meu último verso

Meu último amor

Meu último rabisco

Uma última imagem

Pra rasgar essa paz cheia de dor

E do último grito

Um novo ardor

Variando de som o silêncio ensurdecedor

Faço de novo, e mais uma vez se precisar

Quem não acredita pode apostar

Quem acredita é esperar

Contra todas as estáveis

Síndromes de incapacidade

Imolo minha vida

Sacrifico meu furor

Talvez não mudarei o mundo

Mas o mundo girará instável

Pelas velhas veias deste sonhador

18 de abril de 2007

repressão não declarada

Quando gritei você estava lá para silenciar

Protestei e você de pronto a censurar

Lutei contra e mandou encarcerar

Fugi, sua irá foi caçar

E seu morrer?

Será que no inferno vou ver você?

Desigualdade que persegue

Inconformação, exclusão

Toda vez que tentar mudar

Estará lá para dizer não

Aceite suas correntes e tranque a mente

Mas você sabe

Minha chance de ganhar

Minha chance de parar

Nenhuma

Minha mente imunda vai sempre desafiar

16 de abril de 2007

as vezes é bom desistir

Quando eu tinha certeza

Vocês me fizeram desacreditar

Agora que esqueci

Querem que eu volte a lutar

O pior de mim vem quando deixo de acreditar

Não me procurem mais

Deixem que o tempo soterre minha pobre filosofia

Não sou poeta, nem pensador

Não sou artista, nem cantor

Nem líder, nem orador

Sua revolução pessoal

Não precisa do meu sangue emocional

Preocupem-se em ganhar todo aquele dinheiro

Abro caminho pra vocês

Não quero meu pedaço

Nem acredito mais no que fiz ou no que faço

suicido autoral

Tec, tec, tec

Os estalos do teclado

Parecem os cliques falhos desse gatilho

Adiando o fim da roleta

Adiando o fim da vida que anda russa

Todos esses caminhos levam ao fim

Mal letrado, mal fundamentado

Mal explicado, mal pensado

Achei que não iria voltar

Aqui estou

Digitando arrastado

Meu pensamento nublado

Esperando que o tec-tec faça bum

Rezando por um fim

Numa tarde quente

O vírus me alcança de repente

Talvez amanhã um descanso para o corpo

Mas o tec-tec ainda estará na mente

Esperando, esperando

O bum que pare o ranger dos dentes

?

Sempre tive dúvidas de quem sou

Alias acho que sou a própria dúvida

Duvida?

Nunca duvide de mim

Duvido que não possa desafiar

Quem não possa fazer você acreditar

Na minha própria dúvida

A dúvida de quem duvida

De que ninguém duvide

Que sou sós dúvidas

Que a grande dúvida

A dúvida de toda essa geração

Diz respeito a mim

Dúvida, dúvida, duvida?

Duvidas sem fim

7 de março de 2007

De novo o que não consigo esquecer

Da infância poucas lembranças

Quase sempre desesperanças

E uma amarga grande questão

Porque não eu?

Porque você e não eu?

A morte que chegou fria

Deixou a vida ainda mais sofrida

Não que não pudesse entender

Só não queria acreditar

Sabia que como você

Ninguém mais iria me amar

Não era pelo sangue

Nem pela imaginação infame

Amava por ser eu teu

Pelo teu ser meu

E desde então

O que eu já esperava

Desilusão

Nunca mais cavalo baio

Nem o pé na terra com enxada na mão

Sem cigarro de palha

Morreu também o Passarinho e o Maquinista

Onde estará o Zé, camarada

O Herói o Balão

Burocraticamente continuo vivendo

Cumprindo etapas de lamento

Esperando que encontre de novo

No alto da ponte alta

O meu pedaço que falta

Depois de lá também serei Quincas

E feliz sem mais nenhum copo de pinga

15 de fevereiro de 2007

Free Hugs Mann

Anestesiado e intubado procuro um grito que me tire desse como social. Se um dia saldei Zapata, Zumbi, Che, Sandino e Lampião, saldo hoje o abraço puro desse irmão. Hey “mann”! Abraço-te, onde esteja, como meu coração.

Tons pastéis

Lamentos negros

Sofrimentos brancos

A morte amarela

O seco sangue vermelho

Etnia que riam com hipocrisia

Raça que não tem graça

Escala social

Instinto animal

Mundo canibal

E ainda existe um homem

Que julga-se imortal

Todos já morremos

Enquanto cremos

Que o bom já não vence o mau

Lados, pares e quadrados

Do verso eu quero o verso

Da palavra o anverso

Do lado A o lado B

De você o que ninguém vê

Da voz eu quero o silêncio

Do pensamento quero o som

De você uma palavra que faça valer

Do tempo eu quero cada segundo

Das horas um lapso surdo

De você apenas um sussurro

Do nobre eu quero o vagabundo

Da pausa o gira mundo

De você quero tudo

14 de fevereiro de 2007

argh! (ou hélio, aurélio, cemitério)

O que faço aqui sem meu black tie?

Aliás, o que faço aqui?

Não fui convidado para o jantar

Entrei pela porta dos fundos

Mas já estou de saída

Deixo para trás a hipocrisia burguesa

Só não consigo deixar o que vi sobre a mesa

Como prato principal

Da elite no país do carnaval

Um prato visceral

Braços, dedos e outros pedaços

De uma infeliz criança

Triturada pela indiferença

Temperada pela desigualdade

Enquanto mais uma mãe chora lá fora

Comemora a sociedade neonazista, ou neoliberalista

Apreciam o prato

Trazido pelo pato

Criado em seus quintais marginais

Destinados a quem não sobrevive

A lei de quem pode mais

Comam cadáveres

Arrotem flores

Em passeadas cheias de esperança pela paz

Vou-me embora

Não carrego o preto e branco do black tie

Vim nu e só

A ausência total representa meus ideais

Demonstra minha esperança

Diz o que acho dessa sua paz

8 de fevereiro de 2007

Transmutação

Transmutação

Matem-me, já não preciso viver

Tenho certeza de quando for

Lembraram de mim pelo amor

Incondicional, imutável

Por ti, por ela, por eles, por todos

Olhem para cima

Encontraram algo que mudará suas vidas

Olhem para o lado, olhem além

Percam o foco

Encontrem o que encontrei

Além da minha dor

Um motivo, um sopro

Se não posso mudar o mundo

Mudarei a mim mesmo

Quem sabe assim contagie a todos

Mudemos juntos

Pela força arrebatadora do amor

Assim seremos lembrados

Em cada gentileza

Para sempre

Em todos os abraços

Em qualquer beijo

No mais puro olhar

De seres dispostos a amar

30 de janeiro de 2007

Oriundo de uma terra infértil e distante, localizada na mais profunda escuridão da consciência, está o ódio. Sentimento despertado pela insensatez e o descontrole, amarga quem sente e a quem é direcionado. Alguns preferem ignorá-lo, outros fazem dele combustível, e alguns, justificativa. Eu tento encará-lo, aceita-lo e, talvez, combatê-lo, pois, já que não me sinto do direito de alimentá-lo, escolho o contra ataque, quase sempre mal sucedido. Mas é preciso tentar. Evitar odiar, evitar que cresça no mundo a incompreensão dos erros. Mesmo perto continuo tentando porque, como eu, alguns outros tiveram esse sonho. O sonho da tolerância, entre as raças, entre as religiões, entre simples mortais. Sempre darei a outra face, em meu protesto pacífico, para que a humanidade perca o caminho da cidade encravada nas profundezas da primitividade, a cidade perdida onde habita o ódio. E Jesus disse: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

29 de janeiro de 2007

do absurdo

O grande senhor de porra nenhuma

De palavras belas, mas imundas

Absurdos e mais absurdos

Construídos em poemas sujos

Mal escritos, mal estruturados

Uma afronta a leis da gramática

Um grito de liberdade surdo

Para ninguém ver, para ser perdido

Sonhe com multidões se deslocando

E ganhe a inércia da expectativa

Tantos pensamentos só levam a um lugar

O anonimato desses pensamentos evolucionários

O senhor de porra nenhuma

Do castelo de idéias que desmorona

Quando a onda de realidade

Bate na areia desse pensamento absurdo

Quando o vento da hipocrisia

Sopra para longe a as folhas de ideologia

Sou eu o senhor de porra nenhuma

O senhor da poesia e do absurdo

Sou eu, indicado por deus

O poeta do absurdo

espera

Inconsciente olho para os lados

Espero um novo arrepio

Que percorra toa minha espinha

Tire-me do sério

Deixe-me cego

Faça-me suspirar

A noite vai longe

E entre calafrios

Ainda espero

Esse novo de sopro

Que faça germinar

Rosas nesse jardim de espinhos

Ainda espero

Mas sei onde encontrar

Ainda espero

Já não preciso procurar

Só preciso paciência

Nos ventos de amanhã

O que espero vai chegar

28 de janeiro de 2007

dúvida, duvida?

É tanta informação

E quanta indagação

O que vai ser?

Para quem vai ser?

Com quem vai ser?

Onde vai ser?

Porque vai ser?

Chega!

Não quero mais pensar

Prefiro deixar acontecer

No tempo certo

No rumo certo

Cada resposta

A gente vai entender

26 de janeiro de 2007

hora do lunch

Sol a pino

Cerveja sorrindo

Um copo ou dois

Este já é o quinto

Saudade de tudo isso

Colegas de verdade

Cerveja à vontade

Infelizmente tenho que voltar

Trabalhar para viver

Viver para trabalhar

Não sei a verdadeira ordem

Mas preciso voltar

Antes, acenda um cigarro

Precisamos comemorar

E nada melhor que a fumaça

Da incoerência

Para levar nossos pensamentos

A distancia que nos separa

Nem 50 metros

É incapaz de destruir

Esse inerente afeto

Somos tão diferentes

E tão iguais

Antes do último copo nem sabia por quê

Ma s agora entendo

Preciso voltar

Mas antes tenho que dizer

Amigos, até mais

25 de janeiro de 2007

epidemia de cura

Repito aos quatro ventos

Quanto difíceis são meus movimentos

Calcular, programar, aplicar

Não faz parte de mim esse estratagema

A perspicácia de antecipar

Logo só me resta arriscar

Jogar no lado lúdico da vida

E quando perco

Litros de álcool para a assepsia das feridas

Queimo com a ponta do cigarro

As que teimam em não coagular

Mas já virou gangrena

A dificuldade que tenho

Em não mais errar

Com mais uma baforada de fumaça

E a dor aguda da feriada queimada

Juro pensar antes de falar

Planejar antes de agir

Mas quanto grito ao quinto vento

Injurias sobre mim mesmo

Já começo de novo

A soltar meu pensamento

E rápido como o sexto vento

Que só para mim faz sentido

A mente faz o corpo borbulhar

E junto com desafios

Espero novas feridas

Que marcam de fundas cicatrizes minha vida

Algumas vermelhas quelóides

Outras riscos claros

De coisas que nem lembro mais

24 de janeiro de 2007

vantagens e desvantagens

Esquisito

Perdido

Incompreendido

Maldito

Vendido

Bandido

Tantos adjetivos

Para um menino

Foda

Rápida

Inconsciente

Pertinente

Inconstante

Arrepiante

Tantas qualidades

Para mente do menino

Ordinária

Involuntária

Volátil

Irresponsável

Boemia

Poética

Tantos nomes

Para vida do menino

Intenso

Lindo

Embrionário

Instigante

Profético

Súbito

Tantos fins

Para o último suspiro do menino

23 de janeiro de 2007

castigo (ou dois lados da mesma moeda)

Meu castigo é ser eu mesmo

Olhar no espelho

Ver os mesmo olhos de sempre

O mel quente de abelhas operárias

Falar com a constante voz surda

Escutar o eterno questionamento

Andar sempre sobre estradas turvas

Sentar sobre a alma e derramar lágrimas

Inconformidade

O castigo de ser eu mesmo

Não sonhar solitário

Idealizar o coletivo

Levantar a cabeça

Mesmo incompreendido

Meus castigo

Para vocês, talvez, alívio

19 de janeiro de 2007

Minha pequena revolução

Procuro uma pequena revolução

Onde possa lutar

Que as armas cuspam palavras

Rajadas de idéias

Vôos rasantes

Sobre corpos inertes no campo

Levantem-se todos da ignorância

Sigam um grande capitão

Oh! Capitão

Meu grande capitão

Lidere minha pequena revolução

Cuspindo balas de verbos em carne

Proferindo bombas filosóficas

Levante dos mortos

Grandes soldados

Que liderem batalhas

E vençam a imensa guerra

Da minha pequena revolução

Kamikaze

A loucura me partiu ao meio

Nem a fumaça do cigarro

Acalma meus anseios

Náuseas com todo esse cheiro

Mudança, novidade

Inércia, antiguidade

Confesso tenho medo

Essa dor toda

Da angustia no peito

O que será?

Como será?

Quando será?

O engolir frenético da fumaça

Um câncer

Para curar outro câncer

Confesso que tento

Mas ainda não consigo

Viver a totalidade

As conquistas

Derrotas

Empates

Confesso o desespero

A batalha é real

Minhas armas fantásticas

Mais sonho do que vivo

Confesso o pecado

A ânsia

A vontade

Falta de controle

Uma grande viagem

Morrer a cada segundo

Buscar imortalidade

Confesso: quero descer

17 de janeiro de 2007

o tempo e o vento

Corro com o vento procurando o tempo que me escapou. Corro e perco tempo correndo contra o vento, buscando outros tempos, tempos que já não existem mais. Não há mais tempo, tudo arrastado pelo senhor do vento, o senhor das horas e dos segundos, que faz tudo rolar. Enquanto rolam as pedras, passam novos e velhos tempos, e eu ainda à buscar a compreensão do tempo.Como vento o tempo não pode parar, como vento ao tempo não posso dominar. Busco o tempo que perdi e perco, para o vento, o tempo que fico a procurar em desalento.

15 de janeiro de 2007

Coragem

O que falta sempre é coragem. Coragem de dizer não, de dizer sim, de querer, de não querer. Falta coragem a todos de amar incondicionalmente, de tentar até o último suspiro. Falta a todos a insana vontade de lutar contra o moinho que nunca vai girar ao sabor do seu próprio vento. Mas com coragem ele pode girar em sentido anti-horário e destruir o dragão da covardia que consome nosso tempo. Nos consome em dúvidas e receios, nos consome em medo, medo mudar, de começar de novo, de assumir os erros. Para todos, coragem, muita coragem. Sintam-se corajosos, movam-se contra o vento, não ao sabor das ondas dessa massa de ar morno, paira inconscientemente na estúpida sensação de conformismo. Tenham coragem para quebrar o protocolo da vida moderna – dinheiro e estabilidade. Arrisquem dar bom dia, dizer te amo, abraçar e beijar todo ser vivo. Arrisquem-se a viver. O vento nunca vai para de soprar, mas o sopro da coragem é mais forte. Tenham coragem, a mais plena e pura coragem.

14 de janeiro de 2007

Pedaços

Fragmentado

Esquartejado

Meus pedaços espalhados

Um em cada lugar

Mas não sei em qual

Juntar

Colar

Depois que achar

Emendas serão muitas

Grandes cicatrizes

Profundas

Serei inteiro novamente

Costurado mas completo

Reformulado

Cada pedaço em seu lugar

11 de janeiro de 2007

experience

Anjos e demônios

Cobras e lagartos

Deuses e mortais

Pássaros florescentes

Flores voláteis

Mentes insanas

Lembranças humanas

Que noite estranha

Que sonho louco

E você não estava lá

Não mais

Nem na hora do medo

Nem no minuto do riso

Será que algum dia esteve?

Alguém já esteve?

Sozinho com o pé no fogo

Queimo-me no jogo

Cartas marcadas

Que só um sabe o final

Não sei quem sabe

Nem sei se sei

Continuo

Tentando

Salve!

10 de janeiro de 2007

paz

O sol insiste em acordar-me desse sonho bom. Os raios fracos, mas quentes, chamam para rotina, enquanto o vento diz que por hoje acabou. Até a próxima noite, até o próximo o sonho bom, até as próximas horas. Contarei cada segundo que falta para brincar feliz nesse sono profundo que conforta. E nesses segundos a palavra recorrente em meus pensamentos votará a gritar alto e pedir para essa paz: fica, só mais essa noite, fica.

8 de janeiro de 2007

Mais nada

Quando a alma toca o sorriso

E a boca fala ao coração

Não nos resta mais nada

A euforia toma conta da solidão

O mau se perde em bondade

Não nos resta mais nada

O sopro se torna tempestade de verão

A gota dilúvio de emoção

Não nos resta mais nada

O homem em deus

E deus o homem

Não nos resta mais nada

Aceitar

Acolher

Não nos resta mais nada

Vivos

Para sempre

Manifesto

Acorde para ver o sol

Desperte para não chorar

Abra os olhos para ver o céu

Levante-se para brilhar

No escuro faça-se a luz

Na ignorância, lucidez

Consciência, na embriaguez

Acorde para me ver chegar

Desperte para o que vou falar

Abra os olhos, uma nova visão

Levante-se, dê-me a mão

Somos poucos, somos loucos

Os outros

A re-evolução

5 de janeiro de 2007

Ciranda

Inconscientemente eu aspiro esse aroma psicotrópico do dia em que deixei de sofrer. Anestesiado só enxergo à frente, numa alucinação digna do ópio, mas consistente como as letras. Sei que não poderei viver desse “barato”, e que toda noite terei momentos da caretice reacionária, mas esse ópio da paz é bom para esquecer. Esquecer para lembrar. Lembrar para continuar. Continuar porque estou vivo e quem vive não pode parar. Lúcidos ou chapados todos temos que continuar. E quando chegar à total lucidez procurarei de novo sentimentos lisérgicos, pois adoro ver o mundo à rodar. Uma ciranda lunática na beira do mar, cantando para amar, dançando para Iemanjá.

4 de janeiro de 2007

Negro (ou mel de boddah)

As negras esferas rolam

Desviam-se pra longe

Fogem?

Em meio ao mar negro

Com ondas sinuosas

Esferas de mel se perdem

Procurando as negras

Que perdem o brilho

Rolam incessantes

Para todos os lados

Mas não buscam o mel

Fogem?

Perdem-se?

No brilho dos dentes serrados

O mel se derrama

Encontrem-se

Tornem-se

Novamente

O negro mel

O doce mel negro

3 de janeiro de 2007

Inferno

Bem que disseram que era aqui

Demônios sempre rondam

Mentiras, verdades

Enxergo nos olhos

Espero que enxergue no meu

O que tenho não é ódio

Não combina o inferno

Deixe-me ir

Liberte nossas almas

Podemos achar o céu

Mas meu céu não é esse inferno

Não mereço arder

Esse fogo não precisa cuspir

Nem em mim, nem em você

Preciso voar

Sem seu peso em minhas asas

O fim não precisa ser aqui

Pode ser o começo

Pode ser o lado bom

Do lado ruim

Esse fogo não precisa cuspir

Não precisa queimar

Não irá arder

Basta querer

2 de janeiro de 2007

Estrada

Hoje saio com os primeiros raios de sol, assim espero, ou com as primeiras gotas de chuva. Sinto-me meio como aquele poeta, do qual gosto tanto. Guardadas as devidas proporções, entendo hoje toda sua falta de rumo, e se não tenho toda aquela coragem pintada em azul e branco, tenho a mancha vermelha viva que pulsa no meio do peito. No pulsar do pistão do motor da única coisa que me restou vejo a euforia da solidão, olho para o caos da construção onde estou e percebo o vazio habitado por saudades, esperança, uma barata e algumas formigas. A fumaça e o atrito das rodas deve deixar pra trás tudo que não quero lembrar, e o que não quero pensar. No ciclo da circunferência de 22 polegadas deve ficar também as horas e minutos que restam dessa marcação mundana chamada ano. Depois disso, voltar. O poeta de qual falei parece nunca pensar nesse voltar, talvez seja essa nossa diferença. Nossa igualdade está na penetrante vontade de ir. Sem rumo, ou com objetivos camuflados em uma aparente falta de lucidez. Beberei daqui a algum tempo a um novo ano, beberei a esse poeta, beberei também aos outros que são ou não poetas, beberei a volta. No último gole do etílico, que beberei entre a fusão do novo e do velho tempo, beberei procurando respostas. Após, curado o corpo do choque temporal, novamente sobre os aros e estruturas móveis de metal, de volta a doce e empoeirada estrada, virei rápido buscar a paz azul e branca que os versos do poeta prometeram ao meu pulsar vermelho.

Santa trindade

Boddah senta feliz

Perde-se nos cabelos

Cabelos longos e negros

Belos Cabelos

Brilhosos e intensos

Cabelos de mãe d’água

Sinto falta de Boddah

Voltarei a vê-lo

Deixei que fosse

Agora tenho medo

Espero que Boddah volte

Ainda montando os cabelos

Compridos e negros

Belos e verdadeiros

Cabelos de mãe d’água

Sereia inexistente

Perdida em meus devaneios

Eu, a sereia e Boddah

Idealizador, criador e criatura

Sem uma ordem real

Apenas espero que voltem

Todos os três

Uma nova e santa trindade

Carmem 10114919

Cinco minutos para um novo ano. Sento aqui com um cara foda, só nós dois, como sempre preferimos nos isolar do mundo. Falamos de tudo q aconteceu nos últimos trezentos e muitos dias, conto tudo, tudo que estou sentindo, ele faz o mesmo. Não comentamos nada, apenas escutamos um ao outro. Esse silêncio nos diz como estamos, vazios, esperando que um novo mundo nasça. Ambos esperamos por Carmem, cada um a sua doce e, ainda, inexistente, Carmem. Onde está Carmem? Leio novamente Cuenca e por mais que procure nas teclas do PC, nos números do celular, não consigo achar Carmem. Onde está Carmem? Preciso de Carmem.