1 de dezembro de 2008
Sem título, sem tema, sem lema...
Sob minha cegueira
Por trás de tantos espinhos
O quem sonham entre os dentes
Os homens descontentes
Qual o cheiro presente
No sexo latente
Do que sente vontade o santo espírito
Todo esse tempo onipresente
Espirros e soluços nunca trarão respostas
Nem tão pouco será livre
Submerso nessa busca insólita
O que almeja sua mente sem pudor
Do fracasso
Qual será o odor
Porque respirar
Se sempre o que lhe vem
É a falta de ar
Despertar
Só se for para enfrentar
3 de novembro de 2008
canção de ninar
Sabe deus o que virá
Um anjo cheio de cólera
Ou um lindo diabinho
Que adora canção de ninar
Para Bravura, Grossura é doçura
Para grossura, Bravura é ternura
Mesmo sempre errados
Vão eles para sempre amar
29 de outubro de 2008
Carne crua
Sorrir entre os dentes
Fingir alegria
Vamos às urnas
Eleger como presidente,
O bobo da turma
Vamos acusar Nietzche de heresia
Impelir ao gay a alcunha de doente
Adquirir essa alergia
Erguer renitentes
A voz da prolixa fortuna
Vamos amamentar o caos com azia
Sucumbir ao consumo, veementes
Infligir a sanidade
Ranger das correntes,
Do corpo mole na tumba
Vamos acalentar essa afonia
Implodir sob os emergentes
Admitir o silêncio
Prover contentes
Facadas na carne crua
28 de outubro de 2008
sobre eternidade
A voz do meu coração
Sempre clama pelo seu amor
Mesmo que pareça irrelevante
O poder do meu coração
Moverá o mundo
Para que não sinta dor
E quanto tornar-se entediante
Alimentarei com chamas nosso ardor
Que seja eterno enquanto dure
E dure enquanto eu existir
Pois nada sou
E nada serei
Além de coração
E coração não existe
Sem nosso amor
14 de outubro de 2008
sobre guerreiros espartanos e bestas no limbo
13 de outubro de 2008
má digestão
15 de agosto de 2008
Umbigo
Escuto os sons
Ecoam com lábios fechados
Compreendo a cabeça baixa
Pés juntos e mãos postas
Até mesmo sei
Por que milhos cravados não doem
Por que as ondas na propagam
Depois dos baques duros
Sinto o aperto na boca do estomago
A falta de ar do golpe escuro
Na turva visão posso enxergar
A verdade tão clara
Quase cega
Mas torna-se límpida
Como a promessa
Do silêncio constante
Para que não tenham o prazer
De ver ou ouvir
Meu chorar, meu cantar
Meu viver, meu amar
Nunca sem sentidos
Sempre cheio do meu próprio sentido
13 de agosto de 2008
Com você, como você
Sorria
O sorriso mais forte e sincero
O dia então será iluminado
Só depois me chame
Para que possa acordar de verdade
Deixarei de lado o inverno do meu coração
É sua felicidade
Que faz da minha vida
Um longo e radiante verão
Diante te tanta luz
O que resta é curvar-me
E agradecer a flor dos meus dias
Livra-me
Desta longa noite triste e fria
Onde pesadelos consomem sonhos
Quanto a realidade, bárbara,
Destrói minha poesia
Faz do meu o seu
Como um raio de sol
Esquente minha alegria
1 de agosto de 2008
anverso
E a grande alma do mundo esvai
Mulheres sonham
Homens amam
Meu espírito observa
Além da bruma
Muito além da névoa
A solidão de estar acompanhado
Milhões de palavras
O infinito de atos
Quase nenhum significado
Os olhos se viram
Dentro deste ser
O vazio
Acomodado
Atormentado
Cansado
14 de julho de 2008
7 de julho de 2008
Prólogo
27 de junho de 2008
Posfácio II
Pela falta de esperança
Camuflada em palavras de conforto
Desço do palco
Ideais, pensamentos e sonhos
Silenciosos
Como o aspirar
De um homem morto
Posfácio I
Toda a imaginação e a fábula
Inertes em um rio de lágrimas
Seres fantásticos não sobrevivem
O solo estéril de concreto
Minam sua consciência
Como um amigo imaginário
Ele se vai
Já cresceu, esqueceu a poesia
Deixará de acreditar
20 de junho de 2008
Benzedeira
Com benzina
Cachaça
Charuto
Sangue de galinha
Em cima da encruzilhada
Fazendo sinal da cruz
Ouriçar a caboclada
Com o cavalo,
O pai, a mãe e o filho
Batendo a cabeça
Pra me livrar da crença
De que todo dia
Todo mundo é mau
Valei-me “Seu” Jorge
Ogunhê
Ogum, vencedor de demanda
Ele vem D’Aruanda
Pra salvar filhos
D’Umbanda
19 de junho de 2008
Letrado, cochichado, decorado
Citastes todos os renegados
Do Bill Gates ao Kill Bill, tarantinizado
Amaste os grandes midiáticos
O Bush pai, o filho e seus espíritos, assombrados
Decorastes cada discurso commoditizado
Sem falar Adam, Nietzsche, Freire, Sartre e Che
Cada um, cada fala, em algum momento
Cada um, foi você
Mas de que falas o seu eu?
Se que um dia existiu você
De carne osso vaga
Letrando e discursando o decorado
Sem um só próprio pensamento
Nem cochichando poderá entender
Do que fala um homem libertado
Sentenciar (ou, aqui se faz e se paga)
Sigo botando fé
Na memória
Com história
Na glória
Sem escória
Você quanto reluta
Torna certeza o pesar
Sem memória
Nenhuma história
Jamais glória
Só escória
Se os seus, de dedos apontados
Eu, num coro irado:
Guarde na memória
Jamais sua história
Terá qualquer glória
És do mundo, a própria escória.
16 de maio de 2008
Oração ao fim de tudo
Que os dias passem
E eu possa me calar
A cada segundo
Menus um palpitar
Cego, surdo, mudo
Sem prosa, verso ou resposta
Que o mundo também se cale
E eu possa descansar
Findo todo absurdo
Sem poesia, sem cantar nem encantar
Que vida encerre
Eu possa acabar
Por toda eternidade
Sem sentir, sem pensar
Só resta pesar
Em som oco e fúnebre
Por tentar e tentar e tentar
Que me perdoe
Despeço-me
Cansei de azar
7 de maio de 2008
Cíclica
Acorda, corre, pressa
Muita pressa
Uma hora, duas horas
Pára, limpa o suor
Escorre, junto com idéias
Como sangue pela testa
Recomeça, corre, Pressa
Muita Pressa
Meia noite, uma hora, duas horas
Pára, não valeu de nada
A vontade continua estagnada
Desiste de pensar
Pára
Um dia pára de tentar
Há pessoas que andam
Muitas para nenhum lugar
Outras sonham
É provável Que não venham a alcançar
5 de maio de 2008
Despedida antes de chegar
Em meio a tanto sangue eu percebi que já havia chego minha hora. Pior que morrer é nem ter nascido, já disse uma vez algum espírito livre. A cada pá de terra me vem à lembrança a vida que nem tive, é como se arrepender de algo que nem foi feito. Enquanto discutem sobre o que o quanto eu iria sofrer, sobre meus temores e meus desacertos, esquecessem de mim e da vida que nem vou ter. Apenas justificativas, prerrogativas de suas próprias necessidades. Para não impedirem seus próprios sonhos me privam da chance de aprender a sonhar. E, ao me enterrarem, ficarei frio e sozinho no passado, pois nem tive um nome para que pudessem se lembrar.
30 de abril de 2008
santa peleia
A alma dança
Ao sentir sua esperança
Doces e suaves lembranças
Encouraçadas sob lanças
O sangue guerreia
Frente ao descaso que rodeia
Não perderás uma gota das veias
Honrada e sacra peleia
O espírito vence
Sobre o algoz que treme
Bem alta a guerra geme
Mesmo morto, perene
29 de abril de 2008
Furazóio
Hoje acordei meio indisposto, lavei o rosto, deitei novamente e dali a um pouco levantei, como uma sensação incrível de que mesmo de pé ainda dormia. Esse sono eternamente forçado dos olhos que não querem estar acordados. De repente algo no rádio: ”wake up!”. Meu corpo responde: “for what?”. Seria realmente bom se nada pudesse ser visto mais, um mundo de uma cegueira cansada de um stress estrábico. Sim existem coisas lindas, mas anjos caindo do céu assistidos quase em “real time”, doces vidas azedadas por décadas , filhos de ejaculação precoce eliminados num genocídio silencioso como a falta de visão. “For what?”. Mais tarde, deitei, agora eternamente. Não preciso enxergar mais nada. Das belezas tenho saudades porém, todas as maldades, meus olhos sabem de cor.
28 de abril de 2008
Pague o quanto puder
Alto ou baixo, imperceptível ou descarado, intencional ou não. Todos têm seu preço e, certamente, se venderá algum dia, ou se vendeu por todos os seus dias. Apesar de a negação ser inerente em todo homem, mesmo com discursos íntegros, éticos e politicamente corretos, a existência de um preço é certa, talvez mais certa que própria morte.
Quanto mais baixa a classe social, mais barato o valor atribuído ao código de barras biológico desse homem quase sempre simples e necessitado, que se vende sem nem mesmo perceber. E, quanto mais elevada à posição dentro da sociedade, maiores são as chances de valorização do preço individual e coletivo. São maiores as ofertas, mais longas as negociações e, inevitavelmente, a mercadoria torna-se mais expansiva, praticamente um artigo de luxo.
Mas não se condene, por ter achado ou não seu preço, mesmo inconscientemente você já foi vendido. Negociamos, diariamente, nossas aspirações sociais, barganhamos nosso profissionalismo, vendemos nossos ideais e, até mesmo, colocamos em “saldão” nossas crenças, nossa religiosidade e nossa cultura. A cada troca de emprego, no vai e vem de dos amores, na busca pela “salvação”. Pagamos, recebemos, trocamos... Enfim, sobrevivemos, comercializando, o que temos como podemos.
O preço seja tangível, monetário, filosófico ou fisiológico, é o produto do recebemos subtraído do que pagamos.
Alguns, poucos, conseguem valorizar esse preço durante a vida. Outros, muitos outros, mendigam. Doam todo seu valor em troca de migalhas, a cada segundo mais escassas. Migalhas que se traduzem em um pedaço de pão ou apenas respeito. Porém esse processo também é um preço, nem legal, nem ilegal, apenas real.
Nem sempre há justiça nessa matemática do valor humano. O que recebemos pode sair muito caro, levando em conta o que cedemos. O ideal persistente no instinto de cada homem é equilibrar essa balança comercial, em alguns casos “a qualquer custo”.
A busca pelo superávit pessoal é, invariavelmente, complicada e, diversas vezes, desleal. Em tempos onde a oferta da mercadoria humana é infinitamente maior que a procura por essa nobre matéria prima fica difícil reconhecer o próprio preço.
Pense e pague o quanto puder para decidir quanto vale seu próprio preço.
Ânsia
Estranhas entranhas
Reviradas sob escadas
Escancaradas, afogadas
Embebidas em bílis
THC, nicotina, purpurina
Cat Show, Catsy, Purina
Estranhas entranhas
Castradas, inférteis
Infiéis, estéreis
Prelúdio do vomito
É a ânsia
Regurgita o ócio
Elimina o estereótipo
Estranhas entranhas
Agora quietas
Eno, sal de frutas, sonrisal
Acalma a azia
Resfria a queimação
Com extrema estranheza
Uma última gorfada
Antes do novo mal estar
Estranhas entranhas
Derramadas aos pés
Não da mais pra segurar