21 de dezembro de 2010

equações

Não somos todos iguais
E não somos diferentes
Apenas somos
O que somos não tem valor
O valor está no que fingimos ser
E não ser

A soma das mentiras
É resultado do ser.

18 de novembro de 2010

"A lágrima que nunca cai corta, esfola e sangra, muito mais que o choro que se esvai"

do velho, do novo

Do paiol,
Só resta o Souza
Moderno e artificial
O canto agora é oco
Qual viola sem cocho

Da fumaça, da palha
Só o sufoco
O cheiro também é outro
Lembra o ocre
Como gado morto

Do cavalo baio
Resta o branco
Cego como memória
O peito aperta
Como história

Do velho Quincas
Restam os Santos
Sombras pesadas
De passado rasgado
Meu único encanto

21 de outubro de 2010

Distâncias

Enquanto você desliza sobre os trilhos da novidade, desbravando a multidão inconsciente e insipiente. Eu, totalmente consciente e descrente, espero de volta seu amor. Enfio o dedo na minha carne, limitando a dor de estar só. Viajo pelo lápis, pelas teclas e através da fumaça de mais um câncer, caro como esses olhares assustado, que resvalam, suaves como unha de gato, sobre as marcas que escolhi carregar. Esperando respostas que possam-me levar de volta a você. Como uma conquista. Como uma derrota de tudo que julgo ser inerente e inerte na natureza tacanha. Corro por essas últimas horas gladiantes, pesadas como hipocrisia aristocrata, para ver seus olhos de lágrimas, negros e mouros, sorrirem como orgulhosas pérolas negras...

8 de outubro de 2010

toda tua

Tua falta
Tão ausente
Quanto luz na escuridão
Tão notada
Quanto criança assassinada

Tua falta
Já não tão lembrada
Como árvore morta em chapada
Tão esperada
Quanto a certeza do nada

Tua falta
Já não se faz
Como memória esquecida
Tão desapercebida
Quanto a mentira da tua vida

6 de outubro de 2010

ouro do bobo

Tolo é o ouro
Que me disse bobo
Esqueceu que o homem é corvo
E freak como pão com ovo
De simples bolo
Fez (no fim do arco-íris)
Grande pote
Com outro ouro
Ouro que não é tolo
É ouro mouro
Escuro e forte
Como couro de touro

5 de outubro de 2010

esperando o dia do absurdo

o dia veio
parecia que não ia
começou a andar
derepente parou
olhou para frente
para trás
respirou
e continuou
buscando o amanhã

Data

Semana insana
Derrama lama
Que soterra gana
E desengana a chama

Dia de heresia
Libera hipocrisia
Que alivia a nostalgia
E alimenta a bulimia

Hora tola
Sova a broa
Que cala a boca
E mata o trouxa

27 de setembro de 2010

Prato Feito

Ácido humor
Plástico horror
Cálido ódio
Plácido amor

Ávido senhor
Devora a ti mesmo
Mesmo que regurgites
Todos os segredos

30 de agosto de 2010

Cronologia

Nasci, apenas existi.
Com cinco acreditava saber tudo, errei.
No dia dos dez pensei ter entendido, confundi.
Aos quinze fiz um rascunho do mundo, rasguei.
Revolução busquei aos vinte, desisti.
Depois dos vinte e cinco, cansado, aceitei.
Quando chegar aos trinta, desapontarei.
Depois, de cinco em cinco, já não existirei.

Pleito

Liberdade
Ainda que tardia
Falsa
Qual corte de água fria

Heresia
Blasfêmica democracia
Freguesia
Faz-se com verbo que politicia

Hipocrisia
Ainda que cardia
Falsa
Qual amor de fantasia

Sentenciado

Paralisado
Cérebro cansado estará
Obstinado
Sangue coalhado escorrerá
Sepultado
Homem acabado ficará
Amedrontado
Espírito fraco seguirá
Realizado
Mundo castrado sorrirá

21 de maio de 2010

especialmente (...)

Inigualavelmente inconquistável
É nosso amor
Imprudentemente ardente
Essa paixão
Surpreendentemente notável
Esse querer
Certamente inalcançável
Nosso fervor
Brevemente invejável
Eu e você,
Sempre

19 de abril de 2010

Mastigando cérebro, afinal ele nada mais é do que uma gigante goma cinzenta de vários sabores. De quando em quando é doce como amor de mãe, outras tanta,s azedo igual a pai que nunca vem. Alguns dias pura pimenta, tal como paixão adolescente ardente. Na noite é gelado, tipo ácido mal entornado. Pra mimé sempre fantástico, multi-saboroso, como chicletes Wonka. Raiva, ódio e desejo. Medo, prazer e sossego. Ainda que o meu deverás mascado esteja, tem caldo, azul, vermelho, negro. Só não fica seco. Mastigando cérebro, enquanto vejo duros e sem sabores os teus anémicos neuro condutores.

31 de março de 2010

censurada

Palavra é vício
No papel, baseado, aceitável
Na boca, ácido, inimaginável
Verbo conjugado
Em som impublicável

Verbo é dependência
Na medida, coerência
No excesso, retórica
Palavra cantada
Com surdez, censurada

anjos e augustos

Anjos e demônios
Augustos e robustos
Velhos e decrépitos
Augustos são anjos
Robustos meus demônios
Decrépitos, todos, que estão velhos

Dos demônios
Eu, anjo augusto
Dos decrépitos
Velho demônio
Augusto, dos anjos
Velho robusto
Eu, quase decrépito

17 de março de 2010

to be

Posso perder o sol e até a lua
Deixar para trás meus dias e noites
Perder a vida e nem chegar a morte
Que escape pelos dedos sonhos e realidades

Posso perder o certo e até o duvidoso
Deixar de lado conceitos e preceitos
Perder as horas sem sentir os minutos
Que suma de mim a saúde e o prazer

Só não posso perder você para mim mesmos
Então não deixe escapar o eu de mim
Encontre bem no fundo o que sempre fui
Mostre a mim quem eu ainda sou

Para você, sempre estarei aqui

15 de março de 2010

XXX

vocé irá me deixar vagar os dias sonhando com teu gosto
noites em claro tentando decifrar seu cheiro
meses, décadas, quiçá séculos, amargando meu desejo
você ira pertubar minha existência com o calor de um só beijo
molhado, suado, sempre acordarei "videando" seus segredos
até o ultimo segundo gritarei calado:
possua-me