18 de dezembro de 2012

Carta ao Neanderthal


Velho amigo
Aqui tudo continua igual
Tudo bem comigo
Esperando outro natal
Outra vez iludido
Com essa de ser normal
Ano que vem, fudido
Tentando algo legal
Eu sei, fui o escolhido
Para vida real
Certamente, teria preferido
Continuar natural

12 de dezembro de 2012

Ah! Eu vou...


Um dia vou embora
Para nunca mais
Na verdade vou
Voltar atrás

oh! Minas Gerais

Diálogo


- Okey, passa pra cá esse gole de tristeza...
- Não, não é tristeza... é amargor
- Jogue fora.
- Hã?
- Jogue fora, o copo todo.
- Mas é que sempre tenho essa sede que não passa...
- Pois sim, é melhor embebeda-la de amor.

Depois, entenderam enfim: Quando lhe faltar razão, beba logo, em goles rápidos o que chamam de paixão. Tomei sempre, pois o efeito é rápido, alucinante e revigorante. Mas, saiba que é preciso esperar, as vezes tanto quanto a dor já perdurou. Porque, quanto lhe falta a razão, mesmo quando estiver no fogo da paixão, só o silêncio lhe trará o perdão. É com ele que se encontra um como cheio de amor.

3 de dezembro de 2012

Mantra (ON)


O que pensava eu
Não lhe era mais importante
Nem mesmo o que eu sentia
Não sejamos redundantes
Nada era como antes

O que então agora?
Numa hora qualquer
Num milésimo de segundo
Não diga-me não
Note-me por apenas um minuto

14 de novembro de 2012


No fundo dos pacatos olhos a fúria da sua (in)própria razão. Da pontas dos dedos, tal qual uma extensão, o clique surdo. Agora clarão. Após, escuridão.

12 de novembro de 2012

hereditariedade


Um dia
Seremos filhos
Herdeiros
Dos filhos
Sem pai

Do avô,
O primeiro,
Uma só palavra
Aqui jaz
"Jamais"

Um dia
Seremos pais
Hereditários
Dos filhos
Sem nunca mais
Na loucura, se você olhar bem de perto, irá encontrar a verdadeira lucidez. Já nessa tal verdade lúcida, só a doce ilusão da embriagues. Só mais trago de loucura eu te peço, só mais um trago.

27 de setembro de 2012

Trinta anos não lhe bastava, queria a eternidade. Suicidou-se, em mais um trago de maldade.

8 de agosto de 2012

Banquete


Com as pontas sujas dos dedos
Deliciei-me
Com sabores da infância

Com as mãos esfoladas e tingidas
Fartei-me
Com aromas da maturidade

Com alma insípida, inodora e incolor
Saciarei-me
Com texturas  da velhice

Que assim seja

6 de julho de 2012

marginália

a margem
à margem
há margem

ser
estar
existir

7 de maio de 2012

RIP


Decomposição
Apodrecimento
Desagregação
Dissolução
Putrefação

Ócio

4 de maio de 2012

Toada

Da infância 
Para o mundo
Que não reconheço
Se vão as violas
Depois os terços
Sem passado
Não tem futuro
Nessa tristeza
De novo Jeca
Não mais giramundo
Chora viola
Implora

27 de abril de 2012

Mãos Gerais

Eu vim de lá
E lá veio pra cá
Num verso tolo
E um desenho bobo
Se faz Gerais
Por hora também
Pelas minhas mãos

É muito de mim
Pra não dizer quase tudo
De barro
Do som
Da madeira
Do falar absurdo
Se fez em mim
Pelas mãos, Gerais

25 de abril de 2012

Abanheém


Nasci branco
De alma negra
E fala tupi
Ai de mim dizer que não

Sou Mulato
Cafuso e Mameluco
Sou Cabloco Flecheiro
Consagrado à Mãe de Deus

Nasci beato
De mãos pagãs
E fala laica
Ai de mim não crer

Sou de umbanda
Espírita e cristão
Sou fluente da Luz Universal
Devoto de Cosme e Damião

24 de abril de 2012

Só ria


Hoje sorria
Sem teus dentes
Demente
Com toda a tua razão
Também ausente
Sorria sem teus dentes
Tua vontade eloquente
Como toda gente
Desgraça pouca
De ser vivente

19 de abril de 2012

Éramos nós

Éramos muitos
Cada qual com suas cores
Éramos milhares
Cada um com seu deus
Éramos fortes
Cada amundaba com sua palavra
Éramos diferentes
E mesmo assim iguais
Os herdeiros da floresta

Éramos, não somos mais
Os filhos do Brasil
Agora um indigesto civilizado

18 de abril de 2012

Tratado sobre (a minha) loucura

Ah, a loucura. Ácida doçura da certeza de que nada é além do seu próprio ser. Nada se cria, mas tudo pode ser criado. De jovens deuses ao velho diabo. O mal é contra-senso do bem, tal qual o fim a verdade do além. O que real é louco, a realidade será sempre o profano. Então, seguimos a verdade, ajoelhados como gado a espreita da salvação. Absolvidos pelo sacrifício da carne, esquecendo do sangue que deu vida a toda a sanidade.

9 de abril de 2012

Rebobinar

Só queria sentar ali
Sob a velha árvore
Com minha lembrança antiga
Sobre um avô velho
Seu antigo causo
Na toada da velha viola
Ressoar o antigo rock rural

Rei, ror, létisgor!

Andante

Antes
Passos lentos
Sem nunca chegar
Sonhando
Sem lamentos

Agora
Velocidade máxima
Chegar e partir
Sem sonhar
Sofrendo

3 de abril de 2012

Quadrinha

Saudade da Preta
Do fogo de seu candeeiro
Que me rogou feitiço
Para dançar só em seu terreiro

Salve Janaina
Menina Iemanjá
Um só soluço seu
Já me faz amar

Errata

Algumas manhãs reservo pra assumir meus erros. Não são poucas as que se estendem pelas tardes, afinal, são tantos erros antes de um acerto.

3 de Abril

Encanta ainda ser criança
Na tranquilidade colorida
Desse jardim no céu
Bolhas esquentam o ar
São sorvetes de doce mel
Química, física, apenas alegria
Inflam a esperança
Em meu tolo coração de papel
Onde nunca quis estar
Mesmo assim,
Volto a sonhar

13 de março de 2012

Relembranças

Costumo lembrar do que para outros é pouco importante. O cheiro brando do silêncio ou o gosto cítrico do reencontro. Lembro-me também da novidade estourando como bolhas de gás no céu da boca e da miséria prensando a dignidade tal qual um golpe forte na boca do estomago. Mas o que nunca deixo mesmo de lembrar é o aroma pálido da morte, chocando a todos, para provar que ainda estamos vivos. Quem não se lembra de nada disso, provavelmente, nunca entenderá porque o ruído de um bebê que soluça eternidade ao nascer é tão extasiante.

22 de fevereiro de 2012

Cinzas

Olha a quarta-feira
Tão cinza
Como segunda-feira
Que não termina

Veja o sorriso do palhaço
Tão sem graça
Como a última nota da marchinha
Que não rima

Olha, veja, lá se vai o carnaval
Tão cheio de saudade
Como o lágrima do Pierrot
Que não tem Colombina

Olha só
Veja bem
Só cinzas

8 de fevereiro de 2012

Tons

Vermelho
Seu sangue, herdeiro
Rubro
Minha terra, agora sua

Grená
De alma livre
Escarlate
De fé sublime

Pitanga
Somos todos nã
Coral
Irmão cari

7 de fevereiro de 2012

Mormaço

De repente
Estava quente
Gritou dormente
Sai da frente
Atrás vem gente

Tchibum!

Indigente
Na água latente
O suor descrente
Fez-se descente
Valente

Chuá!

De repente
Estava quente
Na água a semente
Que o calor fermente
Verão veemente

Vapor!

30 de janeiro de 2012

Amanheceu

Enraizado e envernizado
Aperto play, engatilho o macaco
São dez cordas, bordões desafinados
Canto a discórdia do homem civilizado
Mixando valentia de herói do passado

Sou caipira, pira, pora
Remix de cangaço, oratória do mormaço
Do rap ao roll com sotaque eu descasco
Da toada vem fechada, corte e facada
Madando lero para o povo sonhador

20 de janeiro de 2012

Sincretismo

Amém
Axé
Meu Deus
Saravá
Viva Nossa Senhora Aparecida
Salve Mãe Iemanjá

Eu não sou santo
Mas sou caboclo
Toco viola
E danço coco
A pela é branca
De alma negra


Velei-me São Jorge Guerreiro
Beria-Mar auê,
Meu Ogum Vermelho
Graças e louvores
A todo momento
Ao Divino encantamento

19 de janeiro de 2012

Anos

Desde a pasta de dente
Todo dia é diferente
Mesmo com alguns gritos
Sempre lembro dos sorrisos
Afinal, são eles
Que fazem meu coração latente

13 de janeiro de 2012

Prefácio do início do fim

Sim eu também escrevo
É sobre o fim do mundo
Sobre a dor do pé no frevo
Do carnaval ao enterro
Rabisco pra não ficar mudo
Conheça então meu absurdo

Embola

Ouço poesia com cheiro de terra molhada de suor do ouro crioulo. E eu respiro o que parece um rio de mim mesmo. Também sou trovador desse imenso desespero. Salve mestre, salve povo brasileiro.

5 de janeiro de 2012

Espirituosidade

Espirituosidade
Malandragem de malungo
Oxalá abre a porteira
Yo quiero ver o mundo

Sinto falta desse cheiro
Perfume de absurdo
Onde reza a lenda
Do profeta vagabundo

Espirituosidade
Chave mestra do oculto
Saci acende a erva
Quero um trago do ciullo

Abundância de sabor
Gosto forte de calor
Realiza a profecia
Do pobre sonhador