7 de julho de 2008

Prólogo

Durante a minha castração matinal, aquela em que olho no espelho e digo: “Putaquemepariu! Já passei dos 25, perdi a infância,a adolescência,tô perdendo a maturidade e nem sei se vou chegar a velhice...”, tive certeza de que era segunda, mais um segunda. O sol brilhava, os passarinhos cantavam e eu, como sempre, sentia-me um alienígena no país das maravilhas. Fiquei algumas horas acordando e dormindo de novo, na esperança de que quando despertasse tudo estivesse diferente, eu fosse outro e o mundo não fosse o mesmo. Levantei-me de súbito, não que alguma coisa tivesse realmente mudado, mas, para continuar cotidianamente, estava de novo atrasado. No carro o início do desespero. As ruas eram as mesmas, os rostos iguais. A única coisa diferente era eu mesmo, alguns segundos mais velho e muito (muito mesmo) mais descontente. Sentei-me aqui, para fazer “tudo de novo outra vez” e, enquanto sol se mexe de leste para oeste o desespero cresce junto com a certeza de quem nas próximas incontáveis manhãs repetirei incessantemente: “Putaquemepariu! Já passei dos 25, perdi a infância,a adolescência,tô perdendo a maturidade e nem sei se vou chegar a velhice...” Enquanto perco todo esse tempo não deixo de implorar para que alguém prove que todas as minhas ociosas certezas não são nada além de acomodadas e equivocadas generalidades sociais... Meu deus, gostaria de não estar aqui, sentado, com a boca escancarada cheia de esperando a porra da morte chegar.