26 de dezembro de 2006

Vício

Preciso parar de fumar. A cada trago diminui o pulmão e aumenta o pensamento. Doem, os dois. A cabeça que pensa e o corpo que trabalha. Vou escrever até morrer, sangrar os dedos e deixar correr. A cada verso mal feito, a cada texto disléxico, a cada troca de letras, sinto-me mais perto. Não sei se perto da razão ou da loucura, mas sinto-me mais perto. Espero que perto do fim, porque depois do fim sempre tem um começo, uma nova sessão. Continuo então a escrever, esperando que as unhas rachem e que o pensamento canse. Esperando dormir e acordar em um novo lugar, onde continue a escrever, mas onde os dedos não sangrem mais, onde o corpo não peça mais nicotina nem álcool. Longe, um lugar que não existe, mas que já posso ver. Apago o cigarro, depois do último trago. Preciso parar de fumar, preciso parar de escrever. Não posso. É um vício tão grande quanto viver.

Um comentário:

Anônimo disse...

esse lugar está muito perto!