2 de janeiro de 2007

Estrada

Hoje saio com os primeiros raios de sol, assim espero, ou com as primeiras gotas de chuva. Sinto-me meio como aquele poeta, do qual gosto tanto. Guardadas as devidas proporções, entendo hoje toda sua falta de rumo, e se não tenho toda aquela coragem pintada em azul e branco, tenho a mancha vermelha viva que pulsa no meio do peito. No pulsar do pistão do motor da única coisa que me restou vejo a euforia da solidão, olho para o caos da construção onde estou e percebo o vazio habitado por saudades, esperança, uma barata e algumas formigas. A fumaça e o atrito das rodas deve deixar pra trás tudo que não quero lembrar, e o que não quero pensar. No ciclo da circunferência de 22 polegadas deve ficar também as horas e minutos que restam dessa marcação mundana chamada ano. Depois disso, voltar. O poeta de qual falei parece nunca pensar nesse voltar, talvez seja essa nossa diferença. Nossa igualdade está na penetrante vontade de ir. Sem rumo, ou com objetivos camuflados em uma aparente falta de lucidez. Beberei daqui a algum tempo a um novo ano, beberei a esse poeta, beberei também aos outros que são ou não poetas, beberei a volta. No último gole do etílico, que beberei entre a fusão do novo e do velho tempo, beberei procurando respostas. Após, curado o corpo do choque temporal, novamente sobre os aros e estruturas móveis de metal, de volta a doce e empoeirada estrada, virei rápido buscar a paz azul e branca que os versos do poeta prometeram ao meu pulsar vermelho.

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